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O relógio parou de contar. Os segundos já não são mais segundos e nem foram colocados em primeiro quando deveriam ter sido. Hoje é tarde. Nem sei se devo falar de espaço temporal. Já não me acho normal.
Estarei louca ou receosa de libertação, de uma negativa aceitação?
A vós, que ainda se encontram no mundo dos normais, embora mortais, façam o favor de me esclarecer, de me elucidar!
Tragam-me de volta à realidade e expliquem-me como hei de colocar o relógio a funcionar!
Ajudem-me a transformar! Agora que eu preciso que o tempo volte a andar, mas ele não conta, e que eu tenho a plena noção de estar a ficar sem norte, à minha sorte, tenho duas opções previsíveis: desistir ou acordar desta sensação de coma.
Sinto-me doente. Julgo que ninguém mo disse, mas eu sei que estou doente. É premonição!
E não, não é sem nexo que o digo. Agora estou lúcida, num estado pleno, contudo só agora, pois daqui a uma hora não sei o que será de mim. Deixa-me contar-te, antes que se faça tarde, antes que o sol se ponha e não consiga sequer raciocinar.
A noite dá cabo de mim, a noite que devia ser apenas a noite, é escura e traz com ela o vazio. A ignorância também é uma doença e amanhã, logo pela alvorada, estarei um bocadinho mais ignorante e o pior é que eu vou saber disso, mas só de manhã. Está a dar comigo em louca esta sensação de desconhecimento. Cérebro, o que te aconteceu? O que te levou de mim? O tempo? O coração?
Já nem sei tomar decisões, perdi o controlo da minha própria existência e estou acorrentada a este corpo e mente doente.
Talvez esta seja a minha paga do passado, pelos meus lapsos, por ter deixado alguém de lado, mas não me peças que me lembre! Quanto mais tempo perco ao tentar recordar-me, mais tarde fica. Ahhhh e eu nem quero comprimidos, químicos que me matam mais rapidamente do que o sol se põe. A doença do pôr do sol que me afeta todo o dia. Há uma coisa que me inquieta, que mexe comigo enquanto estou sã, é que os sujeitos dão opiniões sobre isto e eu não me recordo de ter pedido o que quer que seja. Alguém me traga o consciente de volta, e isso sim, eu estou a pedir!
Possivelmente tenha a cura: trocar o meu nome para “Alzheimer” e esperar pela noite para que todos me esqueçam.
Tu tens tudo controlado! Tens o tempo do teu lado, o jogo empatado mas tudo sob controlo. Tu tens garra e devoção, o nervosismo e menos unhas na mão. Tu tens sede, de vencer, de beber, de refrescar, mas sobretudo, sede de ganhar! Tu tens sempre um segundo para fazer o que achas prioritário, mesmo quando todos te dizem o contrário. Ou achas que tens ! O que pior poderia acontecer?
Tu tens tudo controlado! Tens 365 dias no ano, tens um horário bacano, com isenções , sem pressões, sem gente chata, sem patrões. Tens a futura à espera, que quase tudo tolera, que sabe que a responsabilidade não rima com a tua idade. Tens tempo para tudo, os outros não. Tu só não tens tempo para sermões, para confusões, não tens tempo para correr, nem para apanhar desilusões. Ou se calhar tens! O que é que pior poderia acontecer?
Tu tens tudo controlado! Tens a agulha e a linha na mão, tens a vontade e a dedicação. Tens o querer e o conseguir e aquilo que não te deixa desistir. Tu tens adversidades! Tens uns neurónios a menos e uns cabelos brancos a mais. Tens o braço partido e umas ligaduras brutais. Tens paciência escassa, mas nunca desistes. Tens teimosia, mas és daquelas pessoas que sempre a manga arregaça. Ou talvez não! O que pior poderia acontecer?
Tu tens tudo controlado! Tens a cabeça na lua, tens toda a tua rua, tens o coração apertado quando tudo fica descontrolado. Tens um parafuso fora do lugar, tens sempre algum azar e questão de sorte não é contigo. Ou não só contigo. O que pior poderia acontecer?
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