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Hoje acordei com a sensação de estar solteiro, completamente divorciado da realidade.
Estranho não saber se a verdade talvez só tenha um nome – passado – e se a realidade pela qual desfilo agora, apenas cheira a ficção. Científica ou não, distinguir o real do irreal nunca outrora tinha sido tão complicado.
Neste espaço fechado, onde só se ouve a água a correr, sinto uma calma extrema, um sinal de virilidade estonteante. Água é vida, dizem. Só assim me sinto realmente vivo, ouvindo a água a correr.
Será este o significado da palavra liberdade? Se assim for, confesso que me sinto livre.
Fechei a água, já corria há muito tempo e vida não se pode desperdiçar.
Esta roupa talvez seja adequada, o tempo está meio incerto e a manga comprida é necessária. As calças de bombazine fazem parte da minha imagem de marca e sapatos clássicos com brilho, embora digam que possa não combinar, fazem com que me sinta especial.
Foi o meu avô que me ofereceu, mas os lá de fora não sabem e eu também faço questão de não contar. Mas... não sei onde pôr os pés, o chão sabe a hora de contágio e não quero expor a isso os meus sapatos.
Já não os exponho a ninguém. Já não conto nada a ninguém. Já não dirijo a palavra a ninguém. Já ninguém sabe como sou por dentro. Já ninguém me conhece porque não me dou a conhecer. Estou sozinho, embora tenha vida.
Já não canto, já não danço, já não converso, já não me interesso, já não me sinto. Minto!
Tinha considerado em sair de casa agora, mas não me posso cruzar com aquilo que está no exterior.
Volto a despir-me. Já ouço a torneira a correr.
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