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Sabem o meu nome, a minha idade, os locais que frequento, com quem já não me dou e afirmam que me conhecem.
Sabem que sou louca porque falo sozinha na rua.
Sabem que sou egoísta porque quero o melhor pastel de nata do café.
Sabem que sou rude porque não sorrio a qualquer um.
Sabem que sou solitária porque não tive descendentes.
Sabem que sou vazia, sem interesse e não sabem bem porquê.
Um dia, hei de ganhar coragem e falar com eles para que também eu possa saber um pouco mais sobre mim.
Ainda não estou preparada, tenho receio de me conhecer pela boca do mundo.
Tendem a ver-me como eles próprios são, não como eu realmente sou, porque não se deram ao propósito de me conhecer.
Assim se vai perdendo o tempo, assente nessa realidade nula.
Ela foi sendo empurrada pela escravidão moderna, pelos rostos afáveis, pelas frases floreadas envoltas em correntes que prendem as mentes mais sãs às irrealidades da vida.
Até que vai passando Abril e, já no fim, surge a lágrima.
Mais uma para juntar às águas mil.
Declara-se um mês chuvoso. Vai transbordando o alguidar.
Sentenciam que é desgosto, mas não passa de cansaço.
Cansaço daquilo que não sucede. Cansaço da sua própria falta de atitude.
Que comece a revolução!
Hoje acordei com a sensação de estar solteiro, completamente divorciado da realidade.
Estranho não saber se a verdade talvez só tenha um nome – passado – e se a realidade pela qual desfilo agora, apenas cheira a ficção. Científica ou não, distinguir o real do irreal nunca outrora tinha sido tão complicado.
Neste espaço fechado, onde só se ouve a água a correr, sinto uma calma extrema, um sinal de virilidade estonteante. Água é vida, dizem. Só assim me sinto realmente vivo, ouvindo a água a correr.
Será este o significado da palavra liberdade? Se assim for, confesso que me sinto livre.
Fechei a água, já corria há muito tempo e vida não se pode desperdiçar.
Esta roupa talvez seja adequada, o tempo está meio incerto e a manga comprida é necessária. As calças de bombazine fazem parte da minha imagem de marca e sapatos clássicos com brilho, embora digam que possa não combinar, fazem com que me sinta especial.
Foi o meu avô que me ofereceu, mas os lá de fora não sabem e eu também faço questão de não contar. Mas... não sei onde pôr os pés, o chão sabe a hora de contágio e não quero expor a isso os meus sapatos.
Já não os exponho a ninguém. Já não conto nada a ninguém. Já não dirijo a palavra a ninguém. Já ninguém sabe como sou por dentro. Já ninguém me conhece porque não me dou a conhecer. Estou sozinho, embora tenha vida.
Já não canto, já não danço, já não converso, já não me interesso, já não me sinto. Minto!
Tinha considerado em sair de casa agora, mas não me posso cruzar com aquilo que está no exterior.
Volto a despir-me. Já ouço a torneira a correr.
Por ti dei tudo o que podia
E findou por ficar na melancolia.
Se desta for um “adeus”, não me voltes a dizer “olá”
Porque não sabes, nem sentes a mossa que isto me faz por cá.
Tornei-me numa personagem que nunca quis ser
Fiz de fantoche, mimo, boneco de trapos e tudo sem querer.
Dizias que por ela estava louco,
Que não saía deste sufoco
E não percebias o que estava a sentir,
Quando eu sei que no fundo, era só uma desculpa
Porque o teu melhor passatempo era baseado na palavra “mentir”.
Talvez mais tarde entendas o que me foi na alma,
Dizem que o tempo tudo leva, tudo acalma,
E por ela vou fingindo estar apaixonado.
Fico longe daqui, já que contigo não chegava a ir a qualquer lado.
Não bebo para festejar, acredita
E espero que a história não se repita
Porque me sinto completamente acorrentado.
Talvez daqui a uns anos, quando tiveres tu outros planos,
Acabes por entender
Que o tempo que me restava, era com ela que passava
Na esperança de te conseguir esquecer.
Agora, à beira do abismo,
Entrego a minha alma ao além,
Estou a suavizar com este eufemismo,
Mas dou-te um conselho:
Nunca te apaixones por ninguém!
Fiquei acabado e interdito ao amor
Com as lágrimas que derramo com a ajuda deste álcool em estado puro,
Que é o mais próximo que tenho do teu calor.
Fica na tua consciência plena
Se achas que os anos passados foram os corretos,
Errei vezes sem conta, mas foram os meus prediletos.
Elogiava a pessoa perfeita que criei na minha cabeça
Já te desejei muito mal, mas prevejo que isso não te aconteça.
Vou ficando por aqui, a agarrar na próxima litrosa.
Sabes onde paro, onde estou,
Não vou mais à tua porta para dar show,
Nem me venhas procurar, toda chorosa.
Odeio-te, porque a tua carência é tão intensa como a tua presença.
Olá!
Tenho andado com alguma falta de tempo, o que acaba por negligenciar um pouco esta parte (que tanto gosto e me faz bem).
Não pensem que me tenho esquecido do blog!
Por falar em esquecimento, nada melhor do que mais uma sessão de "Conversas D'Avó Né".
Espero que gostem dela, tanto quanto eu!
Um beijo!
Estou há horas neste espaço, já conversei com tanta gente, já bebi o meu copo de vinho. Todos devem estar com roupa aparentemente cara, e certamente que estão a condizer com este salão enorme e bem decorado. Ouço risos, está tudo feliz, alguns embriagados, outros disfarçando a sua sobriedade com o barulho das luzes.
O sufoco das luzes, a cor das luzes enraizada num espetro que se resume a negro, na minha mente.
Uma vida monocromática, onde há dias claros e dias escuros, onde há dias em que o claro quase que se mistura com o escuro, mas mesmo assim o cinzento não quer aparecer.
Onde estão os candeeiros desta sala?
Eu juro que não bebi mais nada a não ser este copo de vinho! E nem este vinho eu sei de que cor é ...
Alguém me diz onde está o interruptor? Só vejo o vazio.
Peço perdão por te continuar a mentir. (...) Nada me justifica e o tempo só me condena.
Jogo Duplo, de Patrícia Fragoso
em "Somos mais do que histórias - Volume III"
Podem adquiri-lo em:
Sinto-me doente. Julgo que ninguém mo disse, mas eu sei que estou doente. É premonição!
E não, não é sem nexo que o digo. Agora estou lúcida, num estado pleno, contudo só agora, pois daqui a uma hora não sei o que será de mim. Deixa-me contar-te, antes que se faça tarde, antes que o sol se ponha e não consiga sequer raciocinar.
A noite dá cabo de mim, a noite que devia ser apenas a noite, é escura e traz com ela o vazio. A ignorância também é uma doença e amanhã, logo pela alvorada, estarei um bocadinho mais ignorante e o pior é que eu vou saber disso, mas só de manhã. Está a dar comigo em louca esta sensação de desconhecimento. Cérebro, o que te aconteceu? O que te levou de mim? O tempo? O coração?
Já nem sei tomar decisões, perdi o controlo da minha própria existência e estou acorrentada a este corpo e mente doente.
Talvez esta seja a minha paga do passado, pelos meus lapsos, por ter deixado alguém de lado, mas não me peças que me lembre! Quanto mais tempo perco ao tentar recordar-me, mais tarde fica. Ahhhh e eu nem quero comprimidos, químicos que me matam mais rapidamente do que o sol se põe. A doença do pôr do sol que me afeta todo o dia. Há uma coisa que me inquieta, que mexe comigo enquanto estou sã, é que os sujeitos dão opiniões sobre isto e eu não me recordo de ter pedido o que quer que seja. Alguém me traga o consciente de volta, e isso sim, eu estou a pedir!
Possivelmente tenha a cura: trocar o meu nome para “Alzheimer” e esperar pela noite para que todos me esqueçam.
A Ayla Conta que a Avó Né deseja a todos um feliz ano de 2020!
Por mais leituras neste ano que se avizinha, por mais benevolência com aqueles que originaram e ajudam a criar a nossa própria história!
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