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Estou há horas neste espaço, já conversei com tanta gente, já bebi o meu copo de vinho. Todos devem estar com roupa aparentemente cara, e certamente que estão a condizer com este salão enorme e bem decorado. Ouço risos, está tudo feliz, alguns embriagados, outros disfarçando a sua sobriedade com o barulho das luzes.
O sufoco das luzes, a cor das luzes enraizada num espetro que se resume a negro, na minha mente.
Uma vida monocromática, onde há dias claros e dias escuros, onde há dias em que o claro quase que se mistura com o escuro, mas mesmo assim o cinzento não quer aparecer.
Onde estão os candeeiros desta sala?
Eu juro que não bebi mais nada a não ser este copo de vinho! E nem este vinho eu sei de que cor é ...
Alguém me diz onde está o interruptor? Só vejo o vazio.
Peço perdão por te continuar a mentir. (...) Nada me justifica e o tempo só me condena.
Jogo Duplo, de Patrícia Fragoso
em "Somos mais do que histórias - Volume III"
Podem adquiri-lo em:
Sinto-me doente. Julgo que ninguém mo disse, mas eu sei que estou doente. É premonição!
E não, não é sem nexo que o digo. Agora estou lúcida, num estado pleno, contudo só agora, pois daqui a uma hora não sei o que será de mim. Deixa-me contar-te, antes que se faça tarde, antes que o sol se ponha e não consiga sequer raciocinar.
A noite dá cabo de mim, a noite que devia ser apenas a noite, é escura e traz com ela o vazio. A ignorância também é uma doença e amanhã, logo pela alvorada, estarei um bocadinho mais ignorante e o pior é que eu vou saber disso, mas só de manhã. Está a dar comigo em louca esta sensação de desconhecimento. Cérebro, o que te aconteceu? O que te levou de mim? O tempo? O coração?
Já nem sei tomar decisões, perdi o controlo da minha própria existência e estou acorrentada a este corpo e mente doente.
Talvez esta seja a minha paga do passado, pelos meus lapsos, por ter deixado alguém de lado, mas não me peças que me lembre! Quanto mais tempo perco ao tentar recordar-me, mais tarde fica. Ahhhh e eu nem quero comprimidos, químicos que me matam mais rapidamente do que o sol se põe. A doença do pôr do sol que me afeta todo o dia. Há uma coisa que me inquieta, que mexe comigo enquanto estou sã, é que os sujeitos dão opiniões sobre isto e eu não me recordo de ter pedido o que quer que seja. Alguém me traga o consciente de volta, e isso sim, eu estou a pedir!
Possivelmente tenha a cura: trocar o meu nome para “Alzheimer” e esperar pela noite para que todos me esqueçam.
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