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Aparências. Luxo. Quem não gosta?
Anda bem aparecido, bem montado, tem sempre um “sim, aceito” como resposta.
Passa na rua como senhor, fatinho e todo emperuado. A linguagem é sempre bastante cuidada, com palavreado caro e muita classe à mistura.
No final do dia, deposita cuidadosamente a chave do seu carro e as suas roupas, sem muito cuidado para não vincar e eis que chega ao seu lar.
Doce lar.
Onde existe a escrava da mulher. Essa que tem dois full times. 16 horas a trabalhar. Depois do seu trabalho, vêm as 8 horas em casa, a tratar de passar minuciosamente a camisa do marido, a cozinhar para que lhe seja saciada a fome que tanto trazia da rua, a limpar o pó devido às alergias do seu esposo, entre variadíssimas tarefas.
A tarefa dele começa mal mete o pé do seu prezado sapato dentro de casa. Bebe. Como se não houvesse amanhã.
Enquanto ela trabalha, se cansa em prol do seu bem-estar, ele bebe.
Podia ser água ou até daqueles sumos naturais que ela tanto gosta de lhe fazer, mas não. Um homem a sério gosta de álcool. Álcool a sério!
Ele não trabalha ao fim de semana, um empresário, bem-posto, nunca trabalha ao fim de semana.
Já a mulher, não sabe sequer a etimologia da palavra Folga. Mesmo que não esteja no seu dito local de trabalho, a sua própria casa é um emprego sem descanso. Ela esforça-se ao máximo para não desiludir o patrão.
Patrão esse que, se algo não lhe agrada depois dos ditos “copos”, pega no seu instrumento mais poderoso e utiliza-o contra ela. Não é a sua mão, nem o cinto que ainda não tirou desde que chegou do emprego. Ele vai ao fundinho do seu vocabulário mesquinho e começa a debitar nomes que nem no dicionário mais rasca parecem existir.
Ele considera-a a sua serva, para todo o serviço. Casou porque a mãe já não está presente e, essa sim, tudo lhe fazia de livre vontade. Mãe é mãe e tudo faz para apaparicar os seus descendentes, sem obrigação, sem pressão.
Ele não aprendeu bem com a sua mãe o que significa ter respeito pelo próximo, mesmo que esse habite na nossa própria casa.
Ele é egoísta e não sabe que as palavras a esmagam, que destroem a sua autoestima. Ele só sabe o que é o amor, porque tem amor-próprio.
Perante os de fora, ele é o maior. Bem-visto, com um bom estatuto, homem de negócios, homem de poder.
É dentro daquele espaço confinado a quatro paredes que se revela e onde tenta afirmar quem manda. E ela... ela passa a vida naquela dança do vai/não vai, sujeitando-se ao que o dia-a-dia lhe deu, cheia de medo. Medo de que um dia as palavras passem a ações, medo que um dia tudo termine. Medo de que um dia o medo termine com ela.
Porque será que nesta casa não me consigo concentrar?
Terei eu um défice de atenção?
Serei uma fraude sem aparente razão?
Terei, na realidade, algum azar? Questão de sorte nunca foi comigo.
Não encontro respostas, nem tenho paciência para as procurar.
Hoje é apenas mais um domingo, daqueles. Sem nada produtivo a acrescentar. E afinal de contas, só ontem é que caiu chuva, só ontem esteve um dia enfadonho. Hoje é domingo. Devia ter eu mil ideias a fluir nesta cabeça onde só passa vento e elas preferem fugir com ele.
Ouvi dizer que o Sol está a chegar.
Pode ser que amanhã ele apareça e me apeteça. Já vai ser segunda. A minha segunda desculpa para que não me concentre hoje.
Tu tens tudo controlado! Tens o tempo do teu lado, o jogo empatado mas tudo sob controlo. Tu tens garra e devoção, o nervosismo e menos unhas na mão. Tu tens sede, de vencer, de beber, de refrescar, mas sobretudo, sede de ganhar! Tu tens sempre um segundo para fazer o que achas prioritário, mesmo quando todos te dizem o contrário. Ou achas que tens ! O que pior poderia acontecer?
Tu tens tudo controlado! Tens 365 dias no ano, tens um horário bacano, com isenções , sem pressões, sem gente chata, sem patrões. Tens a futura à espera, que quase tudo tolera, que sabe que a responsabilidade não rima com a tua idade. Tens tempo para tudo, os outros não. Tu só não tens tempo para sermões, para confusões, não tens tempo para correr, nem para apanhar desilusões. Ou se calhar tens! O que é que pior poderia acontecer?
Tu tens tudo controlado! Tens a agulha e a linha na mão, tens a vontade e a dedicação. Tens o querer e o conseguir e aquilo que não te deixa desistir. Tu tens adversidades! Tens uns neurónios a menos e uns cabelos brancos a mais. Tens o braço partido e umas ligaduras brutais. Tens paciência escassa, mas nunca desistes. Tens teimosia, mas és daquelas pessoas que sempre a manga arregaça. Ou talvez não! O que pior poderia acontecer?
Tu tens tudo controlado! Tens a cabeça na lua, tens toda a tua rua, tens o coração apertado quando tudo fica descontrolado. Tens um parafuso fora do lugar, tens sempre algum azar e questão de sorte não é contigo. Ou não só contigo. O que pior poderia acontecer?
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