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Exuberante. Sensual. Inteligente. Gostava de dar nas vistas, que sentissem o seu perfume, que olhassem para a sua maquilhagem carregada, que tocassem os seus cabelos sedosos, loiros, longos e encaracolados, que invejassem as suas combinações com floridos, riscas e padrões, que comentassem qual a origem do seu calçado nunca outrora visto. Todos nela reparavam.
Julgava-se que era descendente de famílias abastadas. Aquele luxo e tanta classe não havia por aí, pelas ruas comuns. As gentes sabiam bem quem ela era, as horas a que passava, apesar de nunca se dar a conhecer. Comentava-se, havia zunzuns de que frequentava um curso reconhecidíssimo de alta costura, que viajava com a família enquanto tratavam de negócios, que era atriz lá fora. Aos mais próximos expunha que era modelo, mas sempre sem dar azo a muito falatório. Estava no auge da vida, tinha vinte e dois. Nova, esbelta e sem preocupações.
Eis que se punha a noite e exibia os seus melhores trajes, as suas melhores joias de pechisbeque que todos julgavam ser de ouro raro. Penteava-se cuidadosamente e colocava acessórios no cabelo, usava casacos de pelo sintético que imitavam perfeitamente os de vison. Ela arranjava-se de dia, nunca ninguém a viu com um único defeito, mas de noite... de noite era diferente.
Muito poucos sabiam onde encontrá-la quando já só se observava a luz da lua. Escondia-se por trás dos arbustos e quando se avizinhava um veículo, aparecia. Do meio do nada. Não precisava de se esforçar muito, pois era automática a paragem de qualquer um. Referia que tinha tido uma avaria no seu carro e logo se ofereciam para “uma boleia”. Tinha o esquema sempre muito bem engendrado.
Carradas de boleias que lhe foram oferecidas, sim, oferecidas. Ela não era uma qualquer. Ela não queria pagamentos, não lidava com dinheiro, não se vendia. Gostava apenas de ser apreciada, tocada, elogiada, isso dava-lhe prazer. Só tinha uma condição: não repetir nenhum chauffeur!
Certa noite, voltou a repetir a trama, um homem parou questionando se era necessária ajuda e referia que aquelas ruas de Monsanto não eram seguras para uma senhora de tanta classe. Ela entrou. Vítor era mecânico e insistiu em saber onde estava o seu carro, que poderia dar uma ajuda. Tudo o que ela queria era a boleia do costume. Entre mil e uma desculpas, lá conseguiu que a levasse à porta de “casa”, mas nada mais. Estranhamente para ela, foi o primeiro a fazê-lo. Levou-a, apenas e só.
No seu pensamento aquilo não fazia qualquer sentido e, não querendo parecer indiscreta, pediu-lhe o contacto para poder arranjar o seu suposto carro. No dia seguinte, pela tarde, toca o telefone da oficina onde Vítor trabalhava. Era ela. Combinaram encontrar-se depois do horário laboral, dizendo ela que assim conseguia ganhar uns trocos por fora. Quando Vítor chegou, não havia veículo algum. Percebeu que era esquema, mas engraçou com ela.
Era casado, duas filhas pequenas e uma vida humilde. Noélia, sua esposa, era uma mulher trabalhadora. Exercia a sua função em casa, cerzideira, tinha os seus clientes fixos e outros que passavam de boca em boca. Tinha umas mãos hábeis, perfecionista como raramente se viu. Conseguia disfarçar os tecidos mais difíceis de trabalhar, fazendo com que se de peças novas se tratassem.
Vítor era feliz com Noélia. Não havia discussões, eram completamente apaixonados um pelo outro. Até ao dia em que ela se cruzara no seu caminho. Marcava encontros a horas improváveis, aparecia de repente no seu local de trabalho... Seduziu-o. Ainda não tinha percebido qual o motivo de ainda não ter existido a tal boleia. Ele era um homem fiel, que embora estivesse a sair da linha, sabia que tinha responsabilidades familiares.
Lá na oficina, Vítor ouviu uns rumores de que ela andava na má vida, que um cliente de topo já tinha comentado sobre o facto de a ter levado a casa. Casa essa que ninguém desconfiava que não era sua, mas ela era tão perspicaz, tão habilidosa, que sabia bem como os enganar a todos. Muito luxo, muitas árvores e um grande portão verde, na zona conceituada do Restelo. Tudo batia certo: a classe dela, a mansão, até o tom e a maneira de falar tão delicada e de palavreado caro.
A sua mãe trabalhava muito, era cabeleireira de dia e tomava conta das crianças durante a noite, nessa tal casa. Era gente importante que ali vivia, gente de viagens, gente que passava dias a fio fora, gente que quase só conhecia os filhos por fotografias, gente que tinha empregadas para tudo e mais alguma coisa, gente que ela gostava de ser. Tinha a chave porque todas as noites ia ter com a mãe.
Viviam as duas sozinhas, em Algés. Não se pode dizer que fossem pouco abonadas ou que passassem dificuldades. A mãe era reconhecida na sua profissão, penteava personalidades e conseguia ter de parte alguns trocos. Os patrões do Restelo também lhe davam muita coisa, principalmente roupa e acessórios que já não utilizavam. Era esse o seu segredo de vestir bem, aleado ao bom gosto que tinha por natureza.
Vítor achou estranho e logo quis confirmar se o que se dissera era verdade. Certa noite, colocou o carro a caminho e lá foi até às ruas de Monsanto. Perguntou àquelas que encontrara se a conheciam e todas negaram. Nem sinal dela. Julgou que eram boatos falseados, homens invejosos. E voltou.
Nisto, Noélia estava já deitada, julgando que Vítor estava a trabalhar, como lhe tinha dito ao telefone e eis que lhe tocam à campainha. Com algum receio, dirige-se à porta e avista uma figura feminina. Era ela. Tinha ido à procura dele, já o tinha seguido até casa mais do que uma vez. Noélia, abriu a janela da sua porta de alumínio e ela questiona imediatamente por ele, novamente com a desculpa de que o seu carro tinha avariado e que era de noite e não queria ir sozinha para casa. Noélia recusou-se a deixá-la entrar, sugerindo que apanhasse um táxi.
No dia seguinte, contou o que se tinha passado a Vítor e surge a primeira discussão entre o casal. Ele sentiu-se incomodado e combinou mais um encontro com ela. Foi nesse dia que ela conseguiu o que ainda não tinha conseguido até então. Foi nesse dia que a sua vida mudou. Foi nesse dia que começou a sua vida a sério.
Vítor mudou drasticamente, não parecia a mesma pessoa. Desligado, longe da família. Saiu de casa, levou tudo o que conseguiu numa carrinha, numa tarde em que a esposa tinha ido a casa de uma cliente com as miúdas.
Noélia ficou sem chão. Duas pequenas para tomar conta, sem marido, sem os eletrodomésticos essenciais. Não quisera acreditar. Viu-se obrigada a voltar para a terra da mãe, no Norte do país, pois sempre tinha a sua ajuda.
Vítor parecia uma criança, sem noção das suas atitudes, mesmo com os seus trinta e seis de vida. Juntou-se com ela, numa casa em Belém, perto dos Mosteiros, e “foram felizes”. Ele passou anos sem ver Noélia e as filhas. Não quis saber. Ela deu-lhe a volta de tal forma que se afastou de quase tudo o que gostava.
Ela teve com ele a vida que sonhou, dizendo-lhe sempre que deixou tudo para trás, por amor. Referia vezes sem conta que os seus parentes não teriam aceite o facto de ela não se ter junto com alguém do seu nível e ele nunca desconfiou de nada. Nunca conseguiu conhecer a família mais próxima, a não ser uma prima que até tinha certas posses financeiras. Ela não cortou relações com a mãe, a cabeleireira.
Viajou, conheceu mais de meio mundo, tinha do bom e do melhor, não cozinhava, as refeições eram sempre feitas nos melhores restaurantes. Todo o dinheiro de Vítor era gasto com o bem-estar dela.
Passaram-se vinte anos e Cândida, a filha mais velha, quis conhecer o pai e avô da sua recém-nascida. Vivia na zona de Cascais, com o marido e foi também ele que incentivou à sua procura. Foi difícil o reencontro. Não havia qualquer número, morada, contacto. Soube do pai através da sua tia, que estava a passar uma fase complicada com o marido, porque descobriu que ele se tinha envolvido com outra mulher (ela). Foi assim que conseguiu chegar até à casa dos dois.
Ela nunca largou o vício, apesar da boa vida que tinha. O Vítor tinha conhecimento de tudo, mas não a deixou. Ela tinha poder absoluto sobre ele e as suas decisões.
Cândida, bateu-lhes à porta e apresentou-se. Conversaram e tentou-se uma reaproximação. Aos poucos, o contacto estabeleceu-se, as idas a casa uns dos outros já eram coisa comum, as épocas festivas eram passadas em família. Parecia tudo recompor-se.
Noélia voltou a casar, voltou para a terra que tinha deixado anteriormente e era feliz. Foi graças a esse homem que ergueu cabeça, que encheu as suas filhas de alegria e teve uma vida digna e cheia de amor.
Um ano depois da reaproximação, o medo de perder tudo começou a fervilhar e Vítor viu-se na obrigação de casar. Tudo com o maior glamour, com a devida lua de mel, com o vestido mais caro e espampanante da loja. Ela quis sentir-se parte da família, mas não quis que ninguém soubesse do passo dado. Ela via perfeitamente como os olhos de Vítor brilhavam ao olhar para Noélia e não queria perder o que anos de vida lhe demorara a construir. Noélia era uma mulher bem resolvida e sentia-se bem consigo própria e com o seu casamento. Talvez isso incomodasse Vítor e a ela também. Queria ser a atriz principal quando das épocas festivas se tratava.
Ela adorava praia, o tom bronzeado do verão e as roupas curtinhas. A Costa de Caparica era melhor do que o Algarve para si. Passavam lá temporadas, conseguiu que Vítor comprasse uma casinha de pescadores e, mais tarde, um apartamento com uma belíssima vista. Tudo o que ela pedia, ele dava. Tinham carros, férias, mais casas e uma vida de fachada.
Dez anos mais tarde, foi diagnosticado cancro a Vítor. Foram momentos complicados, para todos os lados. As filhas sofreram com isso. Ela sofreu com isso. As viagens já eram poucas, devido aos tratamentos, as férias na Costa já não existiam. O armário já há uns tempos que não conhecia roupa nova.
Vítor tinha imensos medicamentos para tomar, tratamentos quase diários. Ela não queria abdicar da vida que tinha e começou por lhe trocar a medicação. Afinal de contas, ele confiava na mulher que tinha ao seu lado. Estranhava-se o facto de ele não melhorar, do seu estado de saúde ser cada vez pior.
As visitas de Cândia e Pérola, a filha mais nova, lá a casa, já eram quase nulas, sempre com a desculpa de que ele precisava de descansar e tinha de se afastar de agitação. Compreenderam. O telefone dela tocava algumas vezes durante a semana, mas sem retorno para as suas filhas. O contacto perdeu-se mais uma vez. Ela tirou-lhe o telemóvel, dizia-lhe que lhe fazia mal à cabeça, que ler era melhor.
Cândida não se conformava com o facto de isso ter voltado a acontecer e durante uma semana seguida tentou visitar o pai na sua casa de Belém. Sempre sem sucesso. Antecedia-se o Natal e como era costume, queria convidá-los para a noite de consoada. Até que chegou o dia e Cândida não desistiu enquanto o telefone não foi atendido. Do lado de lá, ouviu-se uma voz chorosa que deu a notícia de choque. O pai tinha falecido devido à doença.
Falaram durante minutos breves, ela não se quis prolongar. O pai tinha falecido há um mês, foi cremado e as suas cinzas não se sabe bem onde permanecem, ela não quis referir. Cândida não sossegou enquanto não descobriu o motivo de tanto isolamento e mistério em volta da morte do pai. Colocou um advogado e afastou-se dela.
Anos se passaram, mas a boa vida que tinha, essa não acabou. Continuava a viajar, a ter os homens todos à sua voltam a vestir-se bem, como diva que se sentia. Nunca vestiu preto nem fez luto.
A certa altura, a justiça avançou e veio à tona que vendeu maioria das casas, em apenas uma semana, ao desbarato. Que vendeu os carros, mas não as joias e os casacos de pele. Foi aí que se descobriu que era casada com Vítor e que conseguiu falsificar os documentos necessários, referindo a inexistência de herdeiros. Questões familiares chatas. Foi umas vezes a tribunal, mas nada aconteceu.
Sentia umas falhas de memória, mas nada alarmante, achou. Coisas como esquecer-se da carteira, não se lembrar se tinha pago as refeições, não saber onde estava Vítor. Até que dias correram e foi a um especialista. Inícios de Alzheimer foi o diagnosticado. Ficou louca, não queria perder bons anos de vida que lhe restavam, não queria esquecer-se das memórias que construiu.
Deixou de cuidar de si, do seu cabelo longo, dos seus caracóis, da sua maquilhagem. Chegaram a encontrá-la na rua, despida, e a levá-la ao hospital. Ficou completamente só e arrasada. Ficou sem nada. Foi-lhe decretada uma pena, devido aos crimes que se vieram a descobrir que cometeu. Levaram-na para a mitra, nomearam-lhe um tutor e é lá que vive até aos dias de hoje. Alguns bens conseguiram ser recuperados a favor de Cândida e Pérola, outros nem sinal.
O seu estado piorou, devido à idade avançada foi perdendo a visão. As suas roupas servem para vestir todos aqueles que lá vivem consigo. As joias, o ouro, ficaram perdidos no tempo. O dinheiro das reformas de Vítor era chorudo, não só por ser mecânico, mas também ex-militar e hoje apenas serve para pagar a sua estadia.
Sem família, sem bens, sem noção. Ela quis sempre mais, por mais lucros que a vida lhe desse. Tinha necessidades de adultos. Vícios. Ela nunca amou Vítor. Ele foi apenas um meio de conseguir o que quis. Manipulou-o e isso fazia com que se sentisse realizada, a aliar ao facto de que ia tendo as boleias dela. Por mais irónica que a vida seja, hoje não existe qualquer memória do seu passado. E há sempre a questão clichê que paira no ar: Porquê?
Só ela um dia soube.
Eis que vou falar de um assunto bastante presente na vida da gente, mas não uma gente qualquer. Aqueles ditos comuns de “pobres”, sem muito dinheiro, pessoal da ralé, da plebe, mas com nobres corações e, acima de tudo, muito humildes.
Quase todos têm um carrito para as deslocações na cidade, (temos, vá, que eu também me incluo nesta dita classe social), quase todos temos um carrito, uma charronca maneirinha e entre nós não há cá daqueles bitaites “ahhh e tal a tua é melhor do que a minha”, porque para todos os efeitos os carros da gente com mais capital são só ali a partir do ano de 2010. A não ser que seja de um tipo colecionador que tem uma garagem cheia de carismáticos clássicos, todos equipados de origem e cuja sua origem pessoal seja ali das zonas da Quinta da Marinha, da Beloura, e que na sua mansão haja lugar para uns 10 carros (no mínimo) e há sempre, mas sempre, um carro recente – para não estragar os outros, que são só de fim de semana, claro!
Mas vamos ao que interessa, citar um dia normal das gentes menos abonadas e o seu veículo pessoal de transporte, dando o meu exemplo prático.
Tenho um Volkswagen Lupo 1.0 a gasolina, de 1999, (também ele quase um clássico) só tenho de ter cuidado quando chove, pois vá lá saber-se porquê, embacia e não vejo um boi à frente. Tem os seus defeitos, faz um barulhinho na porta do pendura que quase parece que cai e toda a gente que lá entra segura a manivela que caiu da janela porque o vidro não subia sozinho. Basicamente, não posso eu abrir a janela do meu lado direito sem ter companhia com um bocadinho de força para a ajudar a fechar. Mas... nem tudo é mau, no meu antigo Lupo (sim, não me questionem, porém, espatifei um e fui buscar outro igual) a janela estava presa com ripas de madeira porque o vidro caiu num dia em que fechei a porta, como de costume.
Coisas de carros modernos, tudo automático, do melhor!
Pois bem, sabendo que é um carro extremamente poupadinho (8.1 lts/100km, de acordo com a ficha técnica e consumo na cidade) achei que se identificava comigo, jeitoso, pequeno, fácil de estacionar e decidi – sem recorrer a créditos automóveis – investir uma fortuna neste citadino. Cerca de 1250 euros.
Dou as minhas voltinhas, já dei voltas maiores, é um facto e para quem duvidava, o pequenote aguentou-se bem!
Saio no sábado para passar fora o fim de semana, no Algarve dos pobres – Costa de Caparica. 10 euros de gota. Acabo de colocar combustível e sinto-me a maior! Pé no acelerador, a fundo na A5, na faixa do meio, pimba, pimba, pimba, passa todos às 4 mil rotações e lá vai ele. Chego à Costa, arranjo um lugar bacano e quietinho até segunda-feira à tarde. Aquilo lá não é grande, faz-se bem a pé. Como estava orgulhosa, 10 euros deram para três dias... parado!
Tive de vir embora, com muita pena minha, tinha a minha pressoterapia marcada para as 17 horas, sim, porque depois de dois dias estafantes de praia tinha de ter um tratamento de beleza, nos Jardins da Parede com toda a certeza!
Meti 50 cavalos a caminho às 16 horas e 35 minutos, pensando eu que o meu Lupo é um avião a jato e que àquela hora trânsito é coisa que não existe. Ali no cruzamento das palmeiras, mesmo à saída da Costa, surge a minha luz favorita – a da reserva. Tranquilo, dá quase para ir ao Porto e vir. Apanho um bocado de trânsito na via rápida, para-arranca durante uma meia hora e eis que passa a hora do tratamento. Ligo para a clínica e referi que ia demorar mais uns quinze minutinhos “17h15 estou aí!”. Horários nunca foram o meu forte e a minha sorte é que a rececionista me diz que o ideal seria aparecer às 17h30. Nem tinha chegado à entrada da ponte e ainda só estava a ¼ da reserva. Passo as portagens e toca a dar com fé no pé direito, faixa do meio livre, mesmo ao meu jeito e fui pela ponte fora a 80 km à hora sentindo a brisa passando pela minha orelha esquerda. Confesso que ali na subida de Monsanto me deu um apertozinho às 17h18, não pelo atraso, mas sim pelo atraso de vida do meu carro que decidiu subir quase de empurrão e me consumiu mais 2/4 da minha gigante reserva. Bolas, assim já não dá para ir ao Porto, fico-me ali por Coimbra!
Oh Lupito, o que vale é que agora vem aí uma descida e vou de lance durante uns 5 quilómetros. Ponto morto. A agarrar bem o volante para não ir torto e não queimar gasolina à toa! Como é bom estar na autoestrada de Lisboa!
Nem tudo é perfeito, mais um carro parado na via e tudo o que eu queria era chegar a horas ao tratamento. Para meu descontentamento, 17h23 e a gasolina ainda dava para ir e vir outra vez. Chego ali pertinho de Oeiras, olho para as minhas duas beiras e não há ninguém! Caminho livre e bota o ponto morto novamente. Desta vez foi diferente e lá bateu os 120 km à hora. Já a pensar na desculpa pela demora que ia dar quando chegasse ao consultório.
Saída em Carcavelos às 17h30 certas e na localidade não vi abertas, pelo contrário, só veículos parados e a apitar, como se o trânsito assim mais rápido se fosse despachar. Gente da ralé. Porque os chiques não apitam, nem têm problemas de reserva, eles gostam de estar parados para que todos possam admirar a data da matrícula a roçar no ano presente. Que belo cenário e no meu imaginário já só queria estar deitada na marquesa a fazer o meu tratamento de beleza que já lá ia a caminho das 18 horas.
Finalmente, estaciono, aterro no gabinete ouvindo dizer: “Vamos ter de reduzir o tempo hoje, há uma pessoa para as seis e meia!” Penso “tudo bem, a seguir agarro no meu carro e vou dar uma volta, aproveito e vejo o pôr-do-sol”. A única coisa parecida com isso que vi, foi a cor da luz da minha reserva.
Encontro-me com o meu pai que me recomenda que vá à bomba mais perto e ao qual respondo “é certo que o carro até casa aguenta, já o conheço!”
Todo o povo conhece bem a reserva do seu carro, a nossa grande amiga reserva, que decide acender quando mais temos dinheiro na carteira, quando no lugar de 10, por vezes temos 5 míseros euros e nem com o desconto de combustível ela decide apagar.
Lá fui eu, no meu Vermelho Flash até à bomba ao pé de casa, onde possuo um cartão de desconto e pago 9,67 euros. Na distância de casa ao posto de abastecimento deu-me um momento de pura lucidez “mas que estupidez, porque raio vou eu abastecer já se isto ainda não chegou ao tracinho branco?!”
Só entrei porque não havia carros na fila. Puxo da mangueira, carrego com toda a força que tenho, na esperança de sair mais gasolina lá de dentro e até me ficou a doer o polegar. Mas que treta, quase 10 euros por meio minuto na mangueira e quando acaba uma pessoa espreme aquilo até à última, abana até que o mais pequeno pingo saia e quase que arranca a mangueira do posto com vontade de que aquilo encha mais um bocadinho até chegar a casa. Tapa-se o depósito, mete-se a quilometragem a zeros, liga-se o veículo e a puta da reserva está quase a acender. Tranquilo, amanhã vou para a Costa e quando voltar logo se metem mais 10 euros!
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